Cristo Sim, Denominação Religiosa Não?

Em muitos momentos de minha caminhada cristã e ministerial, tenho escutado alguns comentários sobre a denominação religiosa com um tom pejorativo. Para alguns ela não passa de uma estrutura política, invenção de homens para a dominação dos mais fracos ou como alguns dizem, "um mal necessário". É verdade que Jesus edificou a Igreja, estabeleceu o Corpo dos santos e nos fez um só Povo. Em nenhum momento no Novo Testamento vemos Jesus ou os apóstolos designando alguma denominação religiosa. Essa história, por exemplo, de que Pedro foi o primeiro Papa da Igreja Católica é conversa para enganar os incautos. Nem Jesus ou mesmo os apóstolos criaram alguma denominação religiosa. A obra de Jesus e os ensinos dos apóstolos apontam para a Igreja invisível e universal, constituída por todos os crentes lavados pelo Sangue do Cordeiro de todos os tempos e lugares.

Mas é verdade que, historicamente, a primeira denominação religiosa cristã que teve reconhecimento oficial é a Igreja Católica, o que ocorreu no quarto século com o imperador romano Constantino. Antes disso era possível encontrar partidos teológicos diversos. No próprio Novo Testamento vemos algo nesse sentido quando alguns diziam que eram de Paulo, outros de Apolo, outros de Pedro e outros de Cristo (1 Coríntios 1.12). Obviamente que essas divisões foram contestadas pelo apóstolo Paulo. O projeto do Reino nunca foi seguir nessa direção da rivalidade, da competição e do partidarismo. No entanto, onde há agrupamento de pessoas ali há diferenças de pensamento, de conceitos e ideias. Algumas dessas diferenças não prejudicam em nada a unidade do Corpo, aliás, só enriquecem. Outras, porém, não permitem mesmo muito estreitamento.

As denominações religiosas existem principalmente por causa das diferenças doutrinárias, litúrgicas e teológicas. Martinho Lutero, por exemplo, não pretendia ser o fundador da Igreja Luterana. Mas, o que ele ensinava era tão  distante do que o catolicismo pregava que, querendo ou não, acabou estando à frente de um movimento que levou o seu nome. A Igreja Anglicana passou a existir muito mais por uma decisão política, quando o rei Henrique VIII  desejava o divórcio com Catarina de Aragão para poder se casar com Ana Bolena. Mas, em geral, as cisões acontecem por motivos conceituais, no campo das ideias, por diferenças de pensamento e entendimento a respeito das Escrituras Sagradas. Obviamente não deveria ser assim. Todavia, é o que tem acontecido. E creio que devemos saber lidar com isso da melhor forma possível.

Pensando mais especificamente na Denominação Batista, lembro que ela tenta reunir princípios e doutrinas bíblicas que mais se aproximam do ensinamento de Jesus. Com isso não estou dizendo que ela é a única certa. É óbvio que cada denominação religiosa acredita que melhor se aproxima ao ensinamento bíblico. Aí entra a democracia, a liberdade de escolha de cada indivíduo para se unir a uma igreja e, consequentemente, a uma denominação religiosa. Pelo menos em nossa atual conjuntura política ocidental, ninguém é forçado, obrigado ou imposto a seguir uma determinada religião. No entanto, cada denominação religiosa defende o que acredita a respeito da fé e das Escrituras Sagradas. E cada indivíduo tem liberdade de fazer a sua escolha por Jesus, e também por uma denominação religiosa. A propósito, haver tantas denominações religiosas cristãs não é problema. O problema é a falta de compaixão, respeito, cooperação, diálogo, paciência e fraternidade.

Não obstante, o comprometimento denominacional não é um mero capricho. Antes é lutar por aquilo que se acredita em termos de fé e doutrina bíblica. Mas, quem quer fazer o que quer, quem não gosta de prestar contas, quem acha que está sempre certo e principalmente quem não compreende a razão de ser uma denominação religiosa, vive desprezando tal comprometimento. Reconheço que toda denominação religiosa tem as suas falhas, inclusive, a batista da qual faço parte. Todavia, isso não me espanta nem me desanima em nada. Como disse certa vez Boris Casoy "onde está o homem ali está o erro". Mas, se não conseguimos lidar com os de "casa", como então saberemos lidar com os de "fora", ou seja, com os de outras denominações cristãs? O amor que não alcança a todos, na verdade é o amor que não alcança ninguém. Se não conseguimos amar o que é nosso, não conseguiremos amar o que é dos outros.

Para deixar clara a proposta deste artigo, não sou denominacionalista. Não estou engessado nem amarrado com nenhuma tradição ou sistema religioso vazio e sem sentido. Sou cristão, prego Jesus e amo tudo o que Ele é, fez e ensinou. Porém, não tenho dificuldade nenhuma para respeitar, valorizar e me comprometer com a minha denominação religiosa. Se a sabedoria popular reconhece que "uma andorinha só não faz verão", por que eu iria acreditar que sozinho, sem a ajuda de meus irmãos na fé, tanto no sentido de igreja local e mesmo no aspecto denominacional, posso fazer algo relevante a favor do Reino? Não creio na vida cristã isolada. Porque estamos unidos denominacionalmente é que inúmeras igrejas estão sendo plantadas no Brasil e no mundo. Creio que podemos fazer muito mais como denominação. Penso, por exemplo, que podemos ter um programa de televisão que faça a diferença em nossa Nação. Mas, para isso e muito mais é preciso o comprometimento de todos. Como afirmou Ed René Kivtiz: "A salvação em Cristo é pessoal, a vida cristã é comunitária e no Cristianismo nada é individual". Portanto, Cristo sim, porque só Ele salva. Quanto a denominação religiosa também sim, para que unidos possamos fazer muito mais para a glória de Deus.

Pr. Adriano Xavier Machado