Cristianismo Dinâmico

O cristianismo do evangelho, não apenas de uma tradição religiosa, sem dúvida, faz uso do discurso para a promoção da fé. Jesus disse: "Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura" (Marcos 16.15). A Palavra de Deus é pregada e compartilhada para a salvação de almas. "De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus" (Romanos 10.17). No entanto, o cristianismo é muito mais do que pregação e ensino. O cristianismo não se resume a uma plataforma para a oratória ou a uma mera verbalização de ideias e conceitos. O cristianismo de Jesus é movimento, é conteúdo encarnado, é a capacidade de tomar iniciativa, ousadia de intervir, experiência, mudança, contato, tato e olfato. O cristianismo de Jesus é vida e dinamismo. "Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos" (João 3.11).

Nos evangelhos podemos ver Jesus em constante movimento. Ora Ele se encontra em um monte, ora Ele está presente em uma sinagoga. Ele caminha por cidades e aldeias, por praias e desertos. Jesus fica diante de mendigos, cegos, prostitutas, paralíticos ou leprosos. Jesus participa de festas religiosas ou de banquetes sociais com publicanos e pecadores. Jesus dá atenção às crianças, ouve o clamor dos aflitos e sempre vai ao encontro do necessitado. O ministério terreno de Jesus não se limitou a algo que vemos nos dias de hoje em termos de especialistas apenas de "palanques" ou "púlpitos". Jesus sentia o cheiro das pessoas, ficava atento à dor dos cansados e oprimidos, sempre agindo, caminhando e vivendo o que pregava.

Com certeza Jesus também é lembrado por seus grandes ensinamentos e sermões, por suas doutrinas e parábolas. O Sermão da Montanha e a Parábola do Semeador, por exemplo, são famosos e lembrados por grandes oradores e mestres. Mas, o que mais se destacou em Jesus foi a Sua vida atuante, operante, confrontando as injustiças, curando os doentes, libertando os encarcerados de espírito, enfim, fazendo enquanto era dia, a obra do Pai (João 9.4). E aí deve estar o nosso objetivo de fé. No exemplo de Jesus devemos viver o cristianismo. "Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas" (1 Pedro 2.21).

Um trabalho literário que marcou muito o início da minha caminhada cristã foi o de Charles Sheldon: "Em Seus Passos o que Faria Jesus?". O título em si já é bastante sugestivo e desafiador. O livro nos faz refletir sobre respostas práticas que devemos dar em nome de Jesus no nosso dia a dia. O livro não é um convite à pesquisa teológica, mas, a uma posição cristã diante dos dilemas e complexidades da vida. Levando em conta a atual cultura midiática que nos bombardeia com tantas informações e notícias, deixando-nos com uma postura passiva e de alienação, provavelmente a proposta da obra de Sheldon tem mais relevância nos dias de hoje, do que no fim do século XIX, quando o livro então foi editado e impresso. Pois mais do que nunca urge vivermos um cristianismo que se movimenta e interage na comunidade local e na sociedade de uma forma geral.

Pelos noticiários somos informados das muitas misérias e injustiças no Brasil e no mundo. É a corrupção na política, a violência contra a mulher, famílias sendo destruídas pelo álcool e drogas, homicídios de jovens e adolescentes e tantas outras situações humilhantes e degradantes. E o que a Igreja tem feito? Há sim algumas iniciativas pontuais dignas de reconhecimento, mas tudo indica que é preciso muito mais. Parece que o que prevalece ainda é o cristianismo das escrivaninhas, das salas de aula, dos púlpitos. Precisamos mesmo do cristianismo das ruas, dos becos, das estradas, praças e cidades. Precisamos do cristianismo que olha nos olhos, que ouve o gemido do angustiado, que oferece pão ao faminto, o abraço ao carente e o aperto de mão a quem necessita de encorajamento. Enfim, precisamos do cristianismo cheio de vida que lida de modo prático com a vida das pessoas.

Tiago nos oferece um pensamento muito adequado e equilibrado a respeito do cristianismo. Para ele a fé coopera com as obras e "pelas obras a fé é aperfeiçoada" (2.23). O entendimento do apóstolo é que a fé se manifesta com atos de justiça. A sua conclusão, portanto, é que "assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta" (2.26). Tiago não aceita de jeito nenhum uma espécie de cristianismo que não tem efeito na prática do dia a dia. Ele cita um exemplo esclarecedor: "Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do mantimento de cada dia e um de vocês lhe disser: 'Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se', sem porém lhe dar nada, de que adianta isso?" (2.15,16 _ NVI). Um cristianismo assim, para Tiago, não tem a vida do Espírito. Pois cristianismo autêntico é aquele que se manifesta não apenas discursivamente, mas com atos e obras que reflitam a transformação em Jesus e toda orientação santa e graciosa do Seu evangelho redentor. É esse tipo de cristianismo que o mundo mais precisa.

Pr. Adriano Xavier Machado